quarta-feira, 28 de abril de 2010

Domingo

O dia passou assim

Com olhos que nada viram

e cheiro de fim de feira

foi-se com o silêncio da casa vazia

e o estalar da louça vizinha.

Tempo perdido,

na tarde que não se foi.



Piatã S. Marques

Lixo revirado

Parido do esgoto húmido e quente


das galerias da grande maçã,

assim, bicho coisa.

Desagradável odor de enxofre

regado a verminoses e perebas,

que da rua faz casa e marquises, cobertura.

Pessoas, carros, multidão e ...

Bichos coisa, rastejando pela fome

da lavagem que lhes foi negada,

alheios a ração da reza narcizista.

“Dizem que os porcos comem carne humana

quando estão famintos”



Piatã S. Marques

sexta-feira, 23 de abril de 2010

Batida de Cambina

Semeando petúnias e girassóis,

no canteiro de chão batido,

passam-se tardes e noites.

Gira pemba, marca chão.

Uma a uma, colocadas sobre a terra

embaladas pelas mãos negras

e enrugadas da sabedoria,

se vão em novas vidas, sementes.

Velha negra, Velha velha.

Do alto de seu banquinho,

batido em capitão do mato,

planta jardins de cores vivas,

cores mutantes e falhas,

mas cores.



Piatã S. Marques

domingo, 18 de abril de 2010

Hino homérico

Semi-deuses vestem branco

e caminham apressados

sobre os mármores de Atenas.

Não são rélis mortais

Sob seu fino pano branco,

ungido por Hades e Éter.

A estes recai o poder sobre a vida,

a morte,e algo entre elas.

Salve, ó seres donos da prepotência

e da vida alheia, estilhaçada,

esquartejada, sobrepuljada.

Branca.

Tolos Deuses enganados.



Piatã S. Marques

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Viagem

Vovô,

Daqueles três dias foras do tempo, não me esqueci de nenhum. Não esqueci do quanto vocês riram do segredo que contei. Da cara de Vovó quando ouviu. Da pesca dos cinco peixinhos. Do arco-íris inteirinho em cima do mar. Lembra de Vovó tirando a ciroula do traseiro? Ah, que engraçado que foi! A gente lá no sol e na areia, e no mar, e o amor era tanto, tanto, tanto que a gente não queria mais voltar pra casa, e a gente só ria. Nem o calor importava. Nem a fome. E toda hora você e Vovó riam do meu segredo. E me faziam rir também, porque a graça era sincera.

Tá aqui dentro ainda aquela lua cheia. Aquele passarinho azul e vermelho. A poesia sobre o velho e o mar. A bebida mágica de limão galego. O medo da serpente durante nossa caminhada na floresta. Aquele beija-flor pequeno e moribundo que de repente avoou de nossas mãos causando espanto e alegria. A dança desajeitada que a gente quase não dançou e que por isso não tomou muito jeito.

Depois de tanto, só me falta uma coisa, Vovô. O lenço de Maria que me prometeu.

Ácido Lisérgico

Minha consciência consciente

não me deixava ver

o que eu enchergo agora

nas cores vibrantes

que dançam para mim

cantando musica de anjos

com toques de alfazema.

Gosto de frutas vermelhas

sem batom carmim, tudo faz sentido ,

enquanto o próprio sentido, me abandona.

Nesta existência inconsciente,

criaturas correm entre meus cabelos,

enquanto fadas me contam seus segredos.

Sentado num colchão de nuvens padeço.

Rajadas de luzes cintilantes

tomam a ponta dos meus dedos,

brilho constante da lua em que estou

e do mundo que ficou,

escuto uma fina voz:

overdose...

Piatã S. Marques